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POR QUE OS DESENHOS DA MINHA INFÂNCIA SÃO INSUPERÁVEIS?

Cresci na virada dos anos 2000, uma época que, para muitos, foi marcada por uma explosão de cultura pop inesquecível. Eu fazia parte daquela geração que corria para a televisão quando chegava da escola, para ver o finalzinho do bloco de desenhos na TV, e que assistia o VHS com a gravação do início do dia. Cada vinheta, cada música de abertura parecia se gravar na alma, como se cada nota ou frame tivesse sido projetado para me cativar e me acompanhar para sempre. E de certa forma, isso aconteceu.

Lembro-me perfeitamente de cada episódio de Dragon Ball Z, Cavaleiros do Zodíaco, DougCoragem, o Cão Covarde, Bob Esponja, Três Espiãs Demais, Pokémon, Digimon, Naruto, Thundercats e Silver Hawks, Ben 10, a lista é infinita. É curioso como, mesmo décadas depois, eu ainda lembro de cenas específicas, da música de abertura que me fazia correr para a frente da TV, e até de algumas frases dos personagens.

Essa sensação, por mais que me esforce é algo que não consigo replicar com as produções atuais. Salvo algumas produções como Apenas Um Show, Hora de Aventura, Incrível Mundo de Gumball, e Jovens Titans em Ação! que já nem são tão atuais.

Isso me faz pensar no que mudou. Será que sou eu que mudei, agora adulto e mais crítico? Ou será que a forma como consumimos mídia hoje – com a facilidade do streaming e a quantidade absurda de opções – tirou um pouco da mágica que tínhamos ao esperar ansiosamente pela programação da TV? Quando eu era criança, assistir a um desenho não era algo que você poderia fazer quando quisesse. Tinha um horário fixo, e se você perdesse o episódio, só restava torcer para reprisarem. Talvez essa espera criasse uma expectativa que amplificava a experiência.

Além disso, o vínculo emocional com os desenhos de antigamente era muito mais intenso. Desenhos não eram apenas programas de TV, eram eventos. Você e seus amigos comentavam na escola o que tinha acontecido no episódio do dia anterior, faziam apostas sobre o que viria a seguir e até imitavam as lutas nos intervalos das aulas. A maneira como a TV moldava nossa experiência de entretenimento, com programação fixa e aquela sensação de “evento”, transformava cada episódio em algo especial. Era quase como se estivéssemos participando de um ritual compartilhado com milhões de outras crianças ao redor do mundo.

A reflexão que fica é sobre como esses desenhos nos moldaram. Em meio às tramas simples, muitas vezes havia lições profundas. Cavaleiros do Zodíaco falava sobre empatia, família e a importância de respeitar seu amigos, e não subestimar o próximo. Coragem, o Cão Covarde usava o terror para falar de medos mais reais, enquanto Yu Yu Hakusho abordava amizade e superação de uma forma que só percebemos quando olhamos com um olhar mais maduro. Esses temas, que ressoaram tão forte na infância, parecem se perder no ritmo frenético e na constante busca por inovação dos desenhos animados de hoje.

Quando você é criança, tudo é mais intenso. As emoções são mais vívidas, as experiências são mais marcantes. Agora, com o streaming e a possibilidade de assistir a tudo de uma vez só, essa sensação de “momento único” parece ter se perdido. Hoje, apesar de termos muitas opções, parece que falta aquela sensação de algo ser tão marcante, tão discutido e vivido em grupo. A efemeridade das produções atuais, por mais bem feitas que sejam, dificilmente deixam a mesma marca.

Por isso, hoje, quando vejo os desenhos animados modernos, eles simplesmente não parecem ter o mesmo impacto. A produção, claro, é tecnicamente superior. As animações são mais suaves, os cenários são mais detalhados, e os roteiros muitas vezes são mais complexos. Mas, de alguma forma, nada disso compensa a falta daquela conexão emocional que eu sentia com os antigos. Eles são, em muitos casos, produtos extremamente bem-feitos, mas que acabam não deixando uma marca duradoura, acabando sem mais nem menos, ou sumindo do catálogo dos streams.

Então porque mesmo sendo muito bem produzidos, por que nada de hoje me apraza da mesma maneira? Acho que a resposta é complexa e pessoal. Em parte, é porque os desenhos antigos representam um período da minha vida que foi cheio de descobertas, de primeiras experiências e, claro, de nostalgia. Eles estão ligados a momentos da minha infância que, mesmo não sendo perfeitos, são repletos de uma certa inocência e simplicidade que o tempo naturalmente apaga. São parte de quem eu sou. Como eu seria se nunca tivesse assistido a um episódio específico que falava exatamente do que eu estava vivendo ali no momento da vida?

Mas, além disso, acho que havia uma certa “alma” nesses desenhos que, de alguma forma, se perdeu ao longo dos anos. Os personagens pareciam mais autênticos, as histórias, apesar de muitas vezes simples, eram cheias de emoção e carregavam uma novidade.

Talvez o ritmo frenético da sociedade atual tenha moldado as produções para serem mais rápidas e diretas, o que reflete na forma como nos conectamos com elas. Até mesmo o pouco que eu vivi até aquele momento, o pouco de conteúdo que eu tinha acumulado em minha cabeça, somada ao ócio positivo de ser criança.

Antigamente, os desenhos eram uma das principais formas de entretenimento infantil, e como o acesso à internet era muito limitado, assistíamos os mesmos episódios várias vezes, cada vez percebendo algo novo. O próprio ato de rever fazia com que essas histórias se aprofundassem em nossas mentes. Hoje, temos tantas opções e tanto conteúdo disponível que raramente repetimos a experiência de ver algo repetidas vezes. Isso cria uma relação mais superficial, onde consumimos, gostamos, mas rapidamente seguimos em frente para o próximo conteúdo.

Talvez, por isso, os desenhos de hoje não marquem tanto. Eles existem em um mar de opções e, apesar de serem divertidos, não têm a mesma oportunidade de se tornarem algo realmente significativo. Quando olho para trás, vejo que parte do encanto dos antigos desenhos estava na escassez. Não havia uma infinidade de coisas para assistir, então valorizávamos cada episódio, cada personagem. As escolhas eram mais limitadas, mas isso nos forçava a criar uma relação mais forte com aquilo que tínhamos.

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Por fim, acredito que a passagem do tempo também tem um papel importante nisso. Assim como outros aspectos da vida, nossas preferências mudam, nossos interesses evoluem. Talvez o que me marcou tanto na infância simplesmente não tenha o mesmo impacto agora, porque eu também sou outra pessoa. Mas o que esses desenhos antigos me deram, isso ninguém pode tirar. Eles moldaram minha visão de mundo, influenciaram meu gosto por narrativas e até mesmo me ensinaram lições que carrego até hoje.

Olhando para o futuro, fico curioso para ver como as próximas gerações irão se conectar com seus próprios desenhos. Será que eles também vão sentir a mesma nostalgia que sinto pelos meus? Será que eles terão as mesmas lembranças vívidas de um episódio específico, ou de uma música que os acompanhou por anos? Só o tempo dirá.

Mas uma coisa é certa: os desenhos da minha infância continuarão a ocupar um lugar especial no meu coração. Eles são parte de quem eu sou, de quem eu me tornei. E, mesmo que os tempos mudem e as produções evoluam, nada jamais conseguirá substituir o impacto que eles tiveram em mim.

 

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